Em meados dos anos 80, eu não tinha dúvidas de que seguiria a carreira de pintor. O maior problema, era a insegurança de viver da pintura.
Tudo mudou quando fui apresentado pelo artista Nelson Godoy a um senhor de quase dois metros, chamado Péricles Sodré. Não demorei a perceber que ele não era grande só na altura, mas também de coração, humildade e talento.
Em pouco tempo descobri que tinha ganho um verdadeiro amigo e um companheiro nas artes. Passamos a nos encontrar sempre que podíamos em nossos ateliês. Eu ia para o seu, em Niterói, onde era recebido com um abraço que dava a volta nas costas e por sua esposa Selma, que nos dava boas vindas com um delicioso cafezinho. Depois disso, com pincéis e tintas nas mãos, partíamos para as praias ou estaleiros para pintar.
Na semana seguinte, o procedimento era repetido em Angra, também com pincéis e tintas a procura de ângulos para transportar para as telas. Dessa convivência, minha forma de olhar, minha paleta de cores e minha pintura evoluíram, e em pouco tempo eu tinha trabalhos em galerias e participava de leilões. Seguindo o rumo, fizemos uma exposição em 1989 na Galeria de Arte Croquis e Cor em Angra dos Reis, e continuamos juntos participando de várias coletivas.
Sodré produzia intensamente, e deixou um curriculum invejável de exposições com grandes mestres da pintura, entre eles Manoel Santiago, por exemplo. Ele pintava com alegria, era quase um mágico. Tal era sua habilidade e rapidez, que contagiava a todos que estavam em sua companhia e hipnotizava os transeuntes que o cercavam enquanto pintava. Era amigo e companheiro. Nasceu em BH em 1936 e faleceu aos 75 anos em Niterói-RJ em 2011. Trazendo para os dias atuais, eu diria que Sodré, com seu jeito simples e atencioso, deixou o que se chama hoje na mídia, de “uma geração de seguidores”.
Créditos:
Jornalista Paulo Freitas e Selma Sodré.