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O Pintor e Trovador, Péricles Sodré

Paraty – P. Sodré

Pedra do Índio – Niteroi – P. Sodré

Em meados dos anos 80, eu não tinha dúvidas de que seguiria a carreira de pintor. O maior problema, era a insegurança de viver da pintura.

Tudo mudou quando fui apresentado pelo artista Nelson Godoy a um senhor de quase dois metros, chamado Péricles Sodré. Não demorei a perceber que ele não era grande só na altura, mas também de coração, humildade e talento.
Em pouco tempo descobri que tinha ganho um verdadeiro amigo e um companheiro nas artes. Passamos a nos encontrar sempre que podíamos em nossos ateliês. Eu ia para o seu, em Niterói, onde era recebido com um abraço que dava a volta nas costas e por sua esposa Selma, que nos dava boas vindas com um delicioso cafezinho. Depois disso, com pincéis e tintas nas mãos, partíamos para as praias ou estaleiros para pintar.

Paulo de Lira, Péricles Sodré e Dionísio em encontro na Praia de Icaraí.

Convite da exposição Paulo de Lira e P. Sodré, na Galeria Croquis e Cor.

Na semana seguinte, o procedimento era repetido em Angra, também com pincéis e tintas a procura de ângulos para transportar para as telas. Dessa convivência, minha forma de olhar, minha paleta de cores e minha pintura evoluíram, e em pouco tempo eu tinha trabalhos em galerias e participava de leilões. Seguindo o rumo, fizemos uma exposição em 1989 na Galeria de Arte Croquis e Cor em Angra dos Reis, e continuamos juntos participando de várias coletivas.

Sodré produzia intensamente, e deixou um curriculum invejável de exposições com grandes mestres da pintura, entre eles Manoel Santiago, por exemplo. Ele pintava com alegria, era quase um mágico. Tal era sua habilidade e rapidez, que contagiava a todos que estavam em sua companhia e hipnotizava os transeuntes que o cercavam enquanto pintava. Era amigo e companheiro. Nasceu em BH em 1936 e faleceu aos 75 anos em Niterói-RJ em 2011. Trazendo para os dias atuais, eu diria que Sodré, com seu jeito simples e atencioso, deixou o que se chama hoje na mídia, de “uma geração de seguidores”.

Créditos:
Jornalista Paulo Freitas e Selma Sodré.




Pancetti e o mar.

Auto Retrato

Giuseppe Giannini Pancetti, mais conhecido como José Pancetti, nasceu em Campinas -SP  – 1902  e faleceu no Rio de Janeiro – RJ em 1958. O mesmo tinha duas ligações fortíssimas com o mar: uma por ser marinheiro de profissão e a outra pintá-lo, o que o tornou um dos pintores de marinha mais conhecido e valorizado no mundo das artes plásticas.

 

Igreja de Santa Luzia

Pancetti viajou o Brasil a serviço da marinha e certamente ancorou em nossa cidade, prova disso são algumas pinturas que ele nos deixou, – dentre elas a rua do comércio nas fotos 1 e 2 e a igreja de Santa Luzia também na Rua do Comércio, e que  atestam que ele não se encantou apenas pelo mar, como era de se esperar,mas também pela bela arquitetura existente na época. Uma arquitetura tão rica e bela quanto à da nossa vizinha Parati, que a preservou, e com seu tombamento em 1965 passou a ser patrimônio histórico nacional.  Por consequência, seus habitantes que em sua maioria vivem do turismo, não vendem apenas  o mar, mas também passeios pelas ruas da velha cidade; ao contrário de nós, que vendemos apenas o que  nos restou: o nosso belo litoral, que ainda assim, mesmo sendo hoje o nosso maior bem, vem  sendo maltratado com esgoto, lixo e invasões. Torcemos para que nossa cidade continue sendo enquadrada, não só pelas lentes das máquinas fotográficas, pintores ou  artistas em geral, mais também pelas cabeças daqueles que ainda podem salvar, o que nos resta, dessa obra prima da natureza.

 

 

Fontes de Pesquisa:

Itau Cultural
Catálogo das Artes
Ana Pancetti




D`Andrea no Salão da Independência 1980

Em 1980, um evento marcou o início da minha carreira como pintor em Angra dos Reis: participei do Salão da Independência de pinturas. Tinha 20 anos e  minha latente   inexperiência era substituída por minha convicção e desejo de seguir em frente.

Logo no dia da abertura do evento, me senti de certo modo encorajado, pois tive a oportunidade de conhecer os artistas  Ivo dos Remédios,  Sueli Messias,  Odim Ramos, Narciso Gonçalo, Darwin e um que se destacava por sua voz, sua pintura e sua importância no meio cultural, Felício D’Andrea Neto, radialista e pintor com vários prêmios e duas  medalhas de bronze (de 1968 e 1970), no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. D’Andrea era um operário das artes, quando não estava gravando ou pintando, dava aulas no seu atelier,   e de lá sairam uma geração de pintores, entre eles: Narciso Gonçalo, Ivo dos Remédios,  além de ter sido fonte de inspiração para muitos outros, que hoje são referência da pintura na nossa cidade.
Para mim o convívio nesse círculo de artistas foi um incentivo e aprendizado profissional e intelectual.
D’Andrea faleceu em 2007, seus trabalhos podem ser visto… Bem, isso é assunto para outra matéria…




Darwin o Pintor dos Palhaços

Darwin Silveira Pereira,  jornalista,  pintor e escultor, Paulistano (1915 – 1989 ) conhecido também como o pintor dos palhaços, tendo inclusive viajado com circos simplesmente para captar a alma e a essência dos seus modelos. Darwin viajou o Brasil e registrou em suas telas o nosso litoral  Angra dos Reis.   Navegou em suas  belezas,  pintando nossa cidade,  o casario colônia, os barcos  o mar e seus pescadores.

Como registro da sua passagem por aqui, existe no plenário da câmara municipal um painel de 1947, retratando o batismo do Cacique Cunhambebe. Como também existem, muitas pinturas pertencente a colecionadores angrenses.

Acrescento a isso o meu testemunho, pois tive a oportunidade de conviver com Darwin entre 1980 até sua morte em 1989, o que para me foi um aprendizado, mesmo tendo em vista minha pouca  idade,  isso não impediu que aquele senhor de rosto serrado e ao mesmo tempo brincalhão, fiel e honesto com seus trabalhos e seus amigos,  abrisse sua casa na avenida Ipiranga,  onde pude desfrutar da sua amizade,  junto a Yvone sua esposa,  que sempre nos acompanhava em longas conversas com chá e seus deliciosos biscoitos.




OS 30 VALÉRIOS

Há anos descobrimos que a primeira fotomontagem realizada no Brasil, assim como as primeiras produzidas na história da fotografia, foram feitas por um angrense chamado Valério Vieira (1862-1941), pintor, fotografo e pianista.

Na foto destacada ele se posiciona em trinta lugares diferentes, inclusive no busto e nos quadros da parede. A fotomontagem  se chama “Os 30 Valérios”, e com esse trabalho ele ganhou a medalha de prata no The Louisiana Purchase Exposition, em Saint Louis nos Estados Unidos, em 1904.

O mundo conheceu Valério Vieira e suas fotos, menos à cidade de Angra dos Reis, lugar onde ele nasceu. Portanto, ele suas fotos e mais 515 anos de história estão perdido por não termos um simples espaço para expor suas peças e guardar suas memorias.